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ACUSAÇÕES

Casas Bahia: netos relatam "mal-estar" após escândalos 

O instituto financia iniciativas voltadas à primeira infância e ao fortalecimento de vínculos com a comunidade judaica.

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Imagem ilustrativa da notícia Casas Bahia: netos relatam "mal-estar" após escândalos  camera O empresário se defende da denúncia criminal das 32 mulheres alegando ser um “sugar daddy”. | Divulgação

"As acusações são de extrema gravidade, nos chocaram e geraram profunda perplexidade", diz a nota estampada na página inicial do Instituto Samuel Klein (ISK), criado em 2014, mesmo ano em que o patriarca e fundador da rede de lojas Casas Bahia morreu aos 91 anos.

"Ressaltamos desde logo que não iremos contemporizar com qualquer atitude, de quem quer que seja, que não se alinhe com os nossos valores de ética e integridade", prossegue o comunicado, que resume o mal-estar causado pelas denúncias de exploração sexual envolvendo o fundador das Casas Bahia, publicadas pela Agência Pública e pela Folha.

O instituto que financia iniciativas voltadas à primeira infância e ao fortalecimento de vínculos com a comunidade judaica tem como mantenedores Natalie e Raphael Klein, netos de Samuel e filhos mais velhos de Michael, primogênito do empresário que ficou conhecido como "rei do varejo".

Na tarde de sexta-feira (14), foi informado aos parceiros do terceiro setor a suspensão temporária das atividades do instituto. "Essa decisão é parte de um processo de profunda reflexão e consequente transformação e ressignificação para os nossos futuros objetivos", diz a mensagem.

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A direção do instituto, a cargo de Yael Sandberg, assegurou o compromisso de manter os aportes para a continuidade dos programas em desenvolvimento e também aos já aprovados. "Para que terceiros beneficiários não sejam prejudicados."

Entre os projetos apoiados está o Família Acolhedora, do Instituto Fazendo História, que acolhe bebês de 0 a 3 anos em famílias voluntárias até que sejam adotados, garantindo o direito de crianças abrigadas à convivência familiar.

Ao longo das últimas semanas, o instituto havia liberado todos os parceiros do uso da marca ISK em razão da crise de imagem relacionada ao patriarca que dá nome à instituição.

"Eles vão manter os apoios sem divulgação da marca compreendendo os danos reputacionais de estar vinculado ao instituto neste momento", afirma Cláudia Vidigal, fundadora do Fazendo História.

"Não é uma situação fácil, mas estamos apoiando o instituto a encontrar o seu novo lugar. Não dá para seguir como antes nem apenas mudar de nome."

Na área de educação, o Instituto Samuel Klein destina recursos para as escolas Lubavitch-Gani, localizadas no Bom Retiro, e o Centro de Educação Infantil Bety Laffer, que atende crianças e adolescentes e idosos em situação de vulnerabilidade social. Oferece ainda bolsas na Faculdade Israelita de Ciências da Saúde Albert Einstein e outras instituições.

Com uma visão estratégica de filantropia, o Instituto Samuel Klein estava se consolidando entre os novos "players" no cenário de investimento social privado no país.

Natalie Klein Duek, presidente do instituto, pontuou as diferenças entre as ações de caridade feitas pelo avô Samuel no passado e o trabalho do instituto, em um artigo publicado na revista Veja em dezembro de 2019, intitulado "Filantropia é dever".

"O velho Samuka era puro assistencialismo. Ele se comovia com tudo. Se ocorria um desastre natural, meu avô mandava fogão e geladeira para os desabrigados. Financiava de construção de escola a festa de casamento", escreveu Natalie.

Ela descreve o avô como "o cara" em publicações no Instagram, nas quais enaltece a trajetória do filho de carpinteiros, que deixou a escola na Polônia na 3ª série, em meio à perseguição nazista, para virar mascate e construir um império no Brasil.

Se o instituto carrega o peso do nome do patriarca, as novas gerações vão precisar lidar com a carga do sobrenome após os escândalos sexuais.

Uma pessoa próxima diz, porém, que continuam sendo Klein para o bem e para o mal. Ela frisa também não haver "uma família Klein", já que há distintos ramos.

O primeiro racha familiar é anterior à morte do patriarca. Acontece quando o caçula Saul, também denunciado por abuso sexual, vende sua parte na empresa.

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O rompimento se dá em agosto de 2009, quando Saul negociou com o próprio pai a saída do negócio familiar. Saiu bilionário e passou a investir em times de futebol e a levar uma vida de festas, sempre rodeado de mulheres. Afastou-se do restante dos familiares.

Foi também Samuel Klein quem negociou a venda das 500 lojas das Casas Bahia para o Grupo Pão de Açúcar, de Abílio Diniz. Desde 2011, a rede está sob o guarda-chuva da Via Varejo, atualmente Via, holding constituída para gerir as marcas Casas Bahia, Pontofrio (que virou Ponto), Extra.com.br e Batira.

Segundo nota divulgada após os escândalos envolvendo Samuel e Saul Klein, "a família nunca exerceu qualquer papel de controle na holding".

Na condição de acionista, Raphael Klein substituiu o pai na presidência do conselho de administração da Via. Ele construiu uma carreira nos Estados Unidos, onde morou por dez anos e foi dono de concessionárias em Miami, antes de retornar ao Brasil em 2006.

Sua irmã, Natalie, também seguiu voo solo, ao fundar aos 21 anos a NK Store, uma multimarcas de luxo com 1.200 funcionários.

Além de Natalie e Raphael, Michael Klein é pai de outros quatro filhos, frutos do segundo casamento. É inventariante do espólio de Samuel Klein.

"Recebi a informação sobre essas denúncias com perplexidade e tristeza", declarou Michael, em nota encaminhada à Folha, sobre as acusações de abuso sexual contra o pai. "Infelizmente, Samuel Klein não está aqui para se defender."

O espólio do patriarca é uma fortuna estimada em R$ 1,6 bilhão, em torno da qual vem sendo travadas disputas entre os três herdeiros.

De um lado, está Saul, que pretende tirar o irmão do posto de inventariante, e do outro, Michael e Eva, que acusam o caçula de ter "manchado o nome da família".

Em fevereiro, Saul entrou na Justiça para cobrar R$ 13,75 milhões do irmão, alegando se tratar da parte não quitada de empréstimo de R$ 30 milhões. O advogado João da Costa Faria, que representa Michael, disse à coluna Mônica Bergamo que a ação é um "pedido desconexo, grotesco e caricato".

Filho único de Saul, Philip também entrou na Justiça, em outubro do ano passado, pedindo a interdição do pai, sob o argumento de que o empresário teria gasto, em 11 anos, R$ 1,4 bilhão de sua fortuna. A defesa de Saul apresentou documento em que o herdeiro teria desistido da ação.

Os imbróglios se tornaram públicos na esteira das investigações criminais e seus impactos dentro e fora do círculo familiar.

Com um estilo low-profile, Raphael e Natalie chamaram para si a missão de preservar o legado de filantropia do avô, em uma lógica do século 21.

Eles se tornaram "grantmakers", aportando o próprio capital financeiro para ajudar no desenvolvimento de iniciativas já existentes. Fizeram do Instituto Samuel Klein uma espécie de aceleradora de projetos sociais. Viram-se forçados a pisar no freio.

Entre especialistas do terceiro setor, um dos caminhos que podem ser trilhados no futuro pode ser o da filantropia restaurativa. "Há vários exemplos de como a filantropia poderia ser usada para reparação histórica", explica Roberta Faria, do Instituto Mol, que tem como causa o fortalecimento da cultura de doação no Brasil.

Ela cita casos de combate ao racismo estrutural apoiado por descendentes de famílias que enriqueceram com a escravidão nos Estados Unidos. "Isso poderia ser aplicado à exploração sexual, para romper o ciclo de miséria e também curar as feridas das vítimas."

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