
Crônicas são textos curtos, que abordam temas do cotidiano com um olhar reflexivo, crítico ou bem-humorado. Misturando elementos da narrativa e da opinião, a crônica costuma explorar situações simples, mas cheias de significado, revelando sutilezas da vida urbana, comportamentos humanos ou acontecimentos atuais. É um gênero literário acessível e leve, que convida o leitor a enxergar o mundo de forma mais sensível e pessoal.
Pensando nisso, na próxima sexta-feira (11), a escritora paraense Larissa Leal Neves lança "Acredite na sinalização", na Livraria Travessia, em Belém. A obra, publicada como o volume 08 da coleção Só Prosa – Série Brasileira da Martelo Casa Editorial, já foi lançada também na cidade de Breves, no Marajó, durante um evento sobre autoria feminina na Amazônia, algo que Larissa defende com vigor. A presença de mulheres na literatura amazônica, segundo ela, é uma forma de dar novas dimensões às experiências locais, sem que elas sejam enquadradas nos velhos estereótipos regionais.
O livro é financiado por meio do Edital de Obras Literárias e Não Literárias da Fundação Cultural do Pará (2023) e é um convite sensível à leitura do cotidiano, através de trajetos reais e outros oníricos. Dividido em três partes — Rua de mão dupla, Rotatória e Curva acentuada —, mais um prólogo que leva o nome do título, a obra se inspira no ritmo e nas surpresas da vida em trânsito, sejam elas nas ruas ou dentro da alma.

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“Esse livro foi pensado para falar desses fluxos, que eu acredito que são da própria vida no mundo contemporâneo, entre as necessidades de ir e o desejo de ficar, e vice-versa. Não à toa, o título é baseado em uma placa de trânsito”, explica Larissa. “As três partes tentam sinalizar o percurso, uma brincadeira com a ideia de sinalização, que eu mesma tendo a duvidar muitas vezes, já que nunca sabemos para onde a vida leva”, sintetiza a autora, professora no Instituto Federal do Pará (IFPA), em Breves.
Com a sensibilidade de quem transita entre cidades de diferentes Estados e experiências diversas, "Acredite na sinalização" traz crônicas que desdobram o ordinário com profundidade. O cotidiano, com seus cheiros, ruídos e reencontros com o passado, ganha corpo nas palavras de Larissa. “Dizem que o olfato é o sentido que mais aguça a memória. O cheiro do tempo passado é uma das coisas mais estranhas que temos capacidade de sentir”, escreve ela em uma das crônicas. Esse olhar delicado para o tempo e para as marcas que ele deixa nas pessoas (e o contrário também, logicamente) e nas paisagens é uma das marcas do livro.
A obra ganha destaque também pelo texto da contra-capa assinado por Xico Sá, um dos nomes mais influentes da crônica contemporânea brasileira. Larissa reconhece a importância da homenagem, mesmo que seu estilo seja diferente: “Peço desculpas a ele em uma das crônicas”, comenta com humor. Cirúrgico e sempre atento, para Xico Sá, “Larissa tem a graça, o riso ou o ritmo cinematográfico de quem vê a cidade pela janela do ônibus”.
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Crônicas e as múltiplas realidades amazônicas
Seu primeiro livro de crônicas, "Em volta da Lâmpada" (2018), já revelava a importância do gênero para observar a realidade e refletir sobre ela. Agora, com "Acredite na sinalização", Larissa mergulha ainda mais fundo nas inquietações do presente. “A crônica é uma forma muito interessante de tentar apreender o cotidiano e, a partir disso, nos compreender melhor. Ela tenta chegar a algo profundo, mas sem florear. É na crônica que mostramos quem somos de verdade: nossos hábitos, crenças e formas de ver o mundo.”
A escritora também destaca a importância de ocupar espaços literários abordando a Amazônia, sem precisar recorrer ao exotismo: “Há coisas que vivemos como amazônidas, seja nas cidades ou áreas rurais, que são diferentes da experiência de outros brasileiros. E acredito que a crônica é um gênero que tem muito a contribuir nesse sentido, porque se apega ao cotidiano.”
Por isso, seus textos são atravessados por referências como Rubem Braga, nome que despertou nela, na adolescência, o amor pela literatura, e Eneida de Moraes, escritora paraense que a acompanhou durante o tempo em que viveu fora do Pará. As referências não param por aí: “Guardo comigo os versos de Max Martins: ‘porque tua casa não é lugar de ficar, mas de ter de onde se ir’, e independente de onde for, é este lugar amazônico que vai comigo sempre e a partir de onde falo.”
A autora
Natural de Belém, Larissa Leal é formada em Letras pela Universidade do Estado do Pará (UEPA); mestra em Letras e Linguística pela Universidade Federal de Goiás (UFG) e doutora em História pela Universidade de Brasília (UnB). Com trajetória marcada pelo ensino e pela escrita, desde 2015 atua como professora na Rede Federal de Educação, tendo passado pelo Instituto Federal do Tocantins e pelo Instituto Federal Goiano, até retornar para lecionar no IFPA.
Também pelo trabalho como educadora, Larissa reconhece o poder e faz questão de ressaltar a importância dos editais públicos para a produção cultural, especialmente na literatura. “O mercado editorial é difícil e o fomento público tem sido uma das poucas formas efetivas de democratização da arte”, afirma, o que é fortalecido também por sua nova publicação.
Assim, “Acredite na sinalização” é mais do que um livro de crônicas: é um trajeto por entre o presente, uma tentativa de entender e transcrever o mundo a partir de pequenos gestos e cenas cotidianas. Acima de tudo, é um lembrete: mesmo quando o caminho parecer incerto, é possível seguir adiante — com sensibilidade, com coragem e com uma boa dose de memória entre linhas que vão além de qualquer sinalização.
Programe-se!
- Lançamento de “Acredite na sinalização”, de Larissa Leal
- Onde? Livraria Travessia, Belém (PA)
- Quando? Sexta-feira, 11 de abril de 2025, a partir de 19h
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