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LITERATURA

Poeta do Marajó está entre semifinalista do Prêmio Oceanos

Com o livro “Os desertos”, o poeta Marcos Samuel, da cidade de Ponta de Pedras, é um dos semifinalistas do Prêmio Oceanos, uma das maiores premiações para obras de países falantes da Língua Portuguesa.

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Imagem ilustrativa da notícia Poeta do Marajó está entre semifinalista do Prêmio Oceanos camera Marcos Samuel, poeta paraense de Ponta de Pedras, no Marajó, é um dos destaques do Prêmio Oceanos, uma das maiores premiações internacionais de Literatura | ( Divulgação)

O poeta paraense Marcos Samuel é um dos semifinalistas do Prêmio Oceanos 2024, com o livro "Os desertos", publicado pela editora paraense Folheando. Do município marajoara de Ponta de Pedras, no nordeste do Pará, Marcos tem sua obra incluída na lista de uma das maiores premiações para países falantes da Língua Portuguesa, sendo equiparado ao Prêmio Jabuti e ao Prêmio Camões.

Na edição deste, o Oceanos contou com 2.619 livros inscritos, que foram submetidos a dois júris especializados, um de prosa e outro de poesia, formados por profissionais de Angola, Brasil, Cabo Verde, Moçambique e Portugal. Marcos Samuel está ao lado de finalistas como Mia Couto, Micheliny Verunschk, Germano Almeida, João Silverio Trevisan, João Tordo, Adilia Lopes, Nei Lopes e Luis Henrique Pellanda.

Marcos Samuel explica que o livro é construído a partir de experiências homoafetivas pelas vozes de diversos personagens, incluindo o alter ego do autor, com poemas que também tocam em questões religiosas. “Me lembro que eu era muito jovem quando outro gay mais velho falou para mim que um homem homoafetivo era como se fosse uma árvore seca, que jamais iria dar frutos, que nasceu para perecer, para sofrer. Aquilo me chocou e, então, eu disse para mim mesmo que jamais eu seria uma árvore seca. E a prova disso está talvez nos livros”, comenta.

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Marcos recebe com felicidade a indicação e explica que “Os desertos” é o terceiro livro de uma tetralogia, precedido por “Os abismos” e iniciada com o livro “No Próximo Verão”, vencedor do Prêmio Internacional de Poesia, Literatura e Fechadura e finalista do Prêmio Mix Literário em 2022, sendo que o mais recente e indicado ao Oceanos também foi finalista do Prêmio Mix Literário em 2023. O autor explica que as quatro obras trabalham o ambiente homoafetivo e “dão vozes não apenas a periferia, mas também uma ideia de floresta habitada, que é o Marajó, que é a cidade de Ponta de Pedras, que é Belém”.

“Foi tudo muito difícil”

“Gastei cinco anos trabalhando poema por poema (em ‘Os desertos’ e até nas provas dos originais, quando o editor Douglas (Oliveira) me mandava, ainda assim eu fazia alterações no texto, para ter uma ideia de quanto esse trabalho foi muito árduo”, recorda. “A escrita é um ato político, é um ato de resistência, é uma maneira de ser, de estar no mundo. Eu venho de uma realidade muito profunda, eu sou da ilha do Marajó, de Ponta de Pedras, eu nasci numa área de várzea, meu pai era pescador, morreu sem saber ler, nem escrever; minha mãe era uma dona de casa, sem instrução, terminou o ensino médio já adulta fazendo a EJA (Educação de Jovens e Adultos. E então tudo foi muito difícil”, complementa.

Capa do livro indicado ao Prêmio Oceanos
📷 Capa do livro indicado ao Prêmio Oceanos |( Divulgação)

A Literatura de Marcos tem as marcas dessa vida cheia de percalços: “os livros demoraram muito para chegar, as oportunidades demoraram muito a chegar, passei quatro anos estando vestibular até que eu consegui entrar na federal, então quando as coisas começaram a se estabilizar, em 2020, meu pai morre, em 2022 a minha mãe morre, por falta de condições financeiras eu abandono o mestrado na UFPA (Universidade Federal do Pará) e volto para o Marajó para trabalhar e recomeço uma vida do zero”.

“A escrita é um ato político, é um ato de resistência, é uma maneira de ser, de estar no mundo", diz Marcos Samuel.
📷 “A escrita é um ato político, é um ato de resistência, é uma maneira de ser, de estar no mundo", diz Marcos Samuel. |( Divulgação)

É o retorno às raízes que dão força ao poeta, que se apega à poesia também para sobrevir. “Minha base foi a literatura, aí que eu crio sarau na Casa do Poeta, começo um intenso trabalho, não só de escrever. Mas de levar a poesia para as pessoas. Então, a minha vida, tudo, se eu continuei, se eu superei o luto, se eu superei um quadro depressivo muito grave, foi por causa da escrita, foi por causa da poesia”.

O paraense Douglas Oliveira, editor da Folheando
📷 O paraense Douglas Oliveira, editor da Folheando |( Divulgação)

O editor da Folheando Douglas Oliveira comenta que é uma conquista também para a Literatura paraense estar entre os nomes selecionados pelo Prêmio Oceanos. “Para nós, que não somos uma editora grande, é uma felicidade ter um livro como o do Marcos Samuel indicado. É um sinal muito claro do que está sendo escrito no Pará tem relevância e está sendo respeitado pela qualidade das edições e dos autores”, diz.

SOBRE A EDITORA

A Folheando surgiu em 2017, em Belém do Pará. Atualmente conta com mais de 500 títulos publicados, de autores de todo o Brasil, além de assumir a edição de “Passagem dos inocentes”, clássico do escritor paraense Dalcídio Jurandir (1909-1979), e “Belém do Grão Pará” que será lançado em 2024. A editora visa a divulgação e promoção da literatura brasileira contemporânea, com publicações tradicionais, sem custos para os autores.

PRÊMIO OCEANOS

O Oceanos - Prêmio de Literatura em Língua Portuguesa (conhecido até 2014 como Prêmio Portugal Telecom de Literatura) é considerado um dos prêmios literários mais importantes entre os países de língua portuguesa, a par do Prêmio Jabuti ou Prêmio Camões, sendo considerado o equivalente lusófono do britânico Man Booker Prize, pelas semelhanças das suas regras e alto valor financeiro.

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