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Belém se consolida como a capital brasileira dos botecos

Segundo a Abrasel, a capital paraense possui 1,2 mil estabelecimentos para comer, beber e jogar conversa fora, sendo 95 para cada 100 mil habitantes. E a clientela costuma ser fiel e exigente!

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Imagem ilustrativa da notícia Belém se consolida como a capital brasileira dos botecos camera Bar do Parque é centenário na capital | Antônio Melo/Diário do Pará

Levantamento da Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (Abrasel), baseado nos dados do Censo 2022 do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), confirmou uma informação que já era de conhecimento público: coisa que belenense gosta e muito é estar em mesa de bar. Os dados revelam que Belém tem o terceiro maior quantitativo de bares dentre as sete capitais da região Norte: são 1.251 bares em funcionamento só na capital paraense, onde moram mais de 1,3 milhão de pessoas - ou 95,9 estabelecimentos para cada 100 mil habitantes.

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Interessante é perceber que o perfil de frequentadores hoje é o mais diverso que se pode imaginar - e inclui inclusive quem não consome bebidas alcoólicas. Há quatro meses, Arthur Almeida acabou arrendando dos antigos donos o bar onde trabalhou como chef de cozinha por dois anos. O espaço ganhou o nome de Flaminassu (Instagram: @flaminassu), e apesar do visual clássico de boteco, com mesas de madeira na calçada, busca oferecer também uma experiência gastronômica e cultural.

“Eu já tinha um projeto, apenas adaptei. Vale a pena ter bar se a gente pensar que estamos auxiliando no desenvolvimento gastronômico, boêmio, em uma cultura da noite em Belém - ao mesmo tempo em que a questão financeira realmente é um desafio, para nós e para tantos outros donos de bar pela cidade”, explica.

Felipe Garcia transformou clientes em amigos
📷 Felipe Garcia transformou clientes em amigos |Ricardo Amanajás/Diário do Pará

Ele afirma que decidiu assumir o negócio contando com sangue, suor e lágrimas, já que o capital de giro era praticamente zero. “Meu foco sempre foi oferecer uma gastronomia diferenciada, música, cultura, eventos que fomentem a economia desse meio. Meu conceito de boemia remete às ideias de modernistas paraenses, como Bruno de Menezes (1893-1963): não é só sobre beber, é sobre tirar algo disso, produzir algo, seja o conhecimento sobre gastronomia, conhecer novas pessoas. A cerveja é atrativo, claro, mas não é só isso. Precisa ter algo a mais”, avalia Arthur.

SOCIALIZAÇÃO

O professor de Artes Felipe Garcia conheceu o dono do Flaminassu justamente em uma mesa de bar, e dali se tornaram amigos. Sempre que pode, dá um pulo no bar do amigo para tomar um refrigerante e jogar conversa fora.

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“Acho que o pessoal gosta da questão da socialização, o bar tem um calor humano que não existe em outros locais. É espaço de comemoração, mas também de relaxar depois de um dia de trabalho, desabafar, e tantas ideias boas surgem em mesa de bar! Eu e Arthur mesmo nos conhecemos em uma, ambos somos quadrinhistas e já pensamos em vários projetos juntos. Fiz contatos de trabalhos, fiz amigos em mesa de bar, acho que o ambiente tem essa descontração que é única”, avalia.

Jessica Leitão apostou na cervejaria Uriboca
📷 Jessica Leitão apostou na cervejaria Uriboca |Ricardo Amanajás/Diário do Pará

Ruas inteiras se movimentam

Junto com os sócios Sebastião Netto e Bernardo Pereira, a arquiteta Jéssica Leitão criou a cervejaria Uriboca (Instagram: @cervejariauriboca) há três anos, e a ideia era mesmo fazer uma coisa que tivesse a cara dos dois. “A gente sempre entendeu Belém como uma cidade boêmia e isso com certeza teve reflexo na nossa decisão de seguir em frente”, justifica ela.

Um fato curioso na história da Uriboca é que o espaço físico fixo, hoje no bairro do Umarizal, é mais ou menos recente, e antes as cervejas da Uriboca eram comercializadas em outros espaços. O que significa que os donos da marca estão vivendo uma nova experiência.

“Até então tem sido super bacana. Ter a experiência de conhecer o nosso cliente e ver que ele entendeu e curte nossa proposta é muito legal. A gente estudou bastante para entender e identificar nosso público, e a gente sente isso se concretizando no dia a dia do bar”, revela Jéssica.

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Ela conta que a abertura da Uriboca no local mudou até a realidade da área, visto que a rua onde funciona a cervejaria era, até um ano atrás, bastante escura. As luzes dos postes não funcionavam, e desde que foram abrindo empreendimentos, bares inclusive, por ali, ficou muito mais agradável. “A gente não entende como concorrência, e sim como agregadores de um espaço que antes estava abandonado. A rua fica movimentada, iluminada, traz mais segurança e isso para nós é muito positivo”, afirma.

No entendimento de Jéssica, estar em bar já é algo histórico e cultural do belenense, visto que a cidade sempre foi muito boêmia.

“Belém teve uma das primeiras cervejarias do Brasil e, depois, a primeira cervejaria artesanal, que é a Amazon Beer, onde produzimos as nossas cervejas da Uriboca. A gente vive numa região muito quente e a cerveja está aí para saciar esse calor, junto com a sede. O povo belenense é muito agregador e valoriza o estar junto. Nada melhor que um copo de cerveja e uma comida boa, que temos de sobra, para curtir esse momento”, relaciona.

Leodoro e o Meu Garoto
📷 Leodoro e o Meu Garoto |Ricardo Amanajás/Diário do Pará

Tradição de pai para filho

Queridinho de públicos de diferentes idades, o Meu Garoto, boteco nos moldes paulistanos da rua Augusta, onde o cliente bebe em pé no balcão ou em bancos altos, completa 30 anos de existência agora em 2023. Seu dono, Leodoro Porto, conta que já recebe os filhos dos pais que frequentavam o bar logo que abriu, no início da década de 90. Nascido no Piauí, diz que é mais paraense do que muito paraense.

De segunda a sábado, sempre tem gente nas duas unidades do bar Meu Garoto - a mais antiga fica no bairro do Comércio e a mais recente no bairro do Umarizal. Leo, como é conhecido, abre ambas desde o período da manhã, quando recebe o público que trabalha nos dois entornos atrás de lanches, refrigerantes e sucos. Começa a anoitecer e aparece o público do happy hour, da cervejinha, e claro, da cachaça de jambu, criação do proprietário que se tornou marca registrada do Meu Garoto.

“Eu nunca mudei as características do bar, nem de um e nem de outro. Aqui em Belém é muito quente, as pessoas sempre falam que gostam de vir aqui porque podem estar na calçada batendo papo, tomando uma cerveja, aliviando o calor. Aqui é boteco, bar mesmo. E o pessoal gosta disso”, explica Leodoro.

Ambos servidores da Marinha do Brasil, os amigos Max Silva e Augusto Amaral gostam de ir ao bar de Leodoro para a famosa “resenha”. O primeiro, carioca, concorda com o dono do Meu Garoto que o calor de Belém acaba convidando a buscar um lugar aberto na hora de sair para algum lugar. “Se for um lugar com aquela cerveja estupidamente gelada então, aí fica melhor! Aqui para mim é lugar de ‘relax’ depois do trabalho, de bater papo”, admite.

“Aqui é muito isso, sair do trabalho, dar uma relaxada, quer conversar, mesmo que seja de trabalho mesmo. A gente já conheceu muita gente aqui, ainda tem a interação, que é muito bacana”, finaliza Augusto.

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