É impossível falar de evangelho, sem falar de amor, respeito e bondade. Foi exatamente assim que Jesus se apresentou a todos nós. E talvez, o grande desafio de nossos tempos, seja em poder falar desses valores, sem que alguém tente deturpar a mensagem contida na cruz.
Com toda certeza você já ouviu alguém dizer: “Deus é amor mas também é justiça”. Essa frase não está na Bíblia, mas muita gente usa de forma equivocada, quando quer falar a respeito do pecado alheio, quando quer apontar os erros dos outros, ou quando quer dizer a alguém que Jesus não só ama, mas também julga os pecados.
Algumas questões...
É verdade que Jesus julgará nossos pecados? Sim. Vejamos o que diz o texto que está no evangelho de Mateus 12.36-37: “O Senhor disse: “De toda a palavra ociosa que os homens disserem hão de dar conta no dia do juízo. Porque por tuas palavras serás justificado, e por tuas palavras serás condenado”.
É dever de um seguidor de Cristo, julgar os outros? Não. Vejamos o que Paulo diz em 1 Coríntios 4.5: “Assim, nada julgueis antes da hora devida; aguardai até que venha o Senhor, o qual não somente trará à luz o que está em oculto nas trevas, mas igualmente manifestará as intenções dos corações. Então, nesse momento, cada pessoa receberá de Deus a sua recompensa”.
O que devemos fazer até a vinda de Cristo? Levar a mensagem do evangelho com amor. Pois a justiça, só cabe a aquele que se fez justiça por nós.
“... Essa seria a justiça de Deus para toda a humanidade se não houvesse o amor. Mas porque Deus é amor, sua verdadeira justiça se revela no evangelho”. (Romanos 1.17)
A frase: “Deus é amor mas também é justiça”, além de não existir na Bíblia, está escrita em um sentido totalmente errado. Na verdade a frase deveria ser a seguinte: “Deus é amor, e em nome desse amor se fez justiça e morreu em nosso lugar”.
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Uma breve história…
Me converti ao evangelho aos 21 anos, mas a minha relação com a igreja evangélica começou muito antes. Quando eu era criança, minha mãe fazia questão de que aos domingos, pela manhã, minha irmã e eu, fossemos à Escola Bíblica Dominical (uma espécie de aula, onde aprendemos assuntos e temas relacionados à Bíblia). Pela noite, íamos ao culto. E assim durante anos fazíamos esse "trajeto".
Mas foi durante esse período, que acabei passando por uma “experiência” nada agradável e que ficou marcada em minha caminhada.
O ano foi 1997. Em casa depois do almoço, meus pais reuniram alguns amigos da igreja para fazer uma tarde de oração e ministração da palavra de Deus.
Antes da mensagem, hinos da harpa cristã e muita oração. Lá pelo meio da reunião, algo chamou a atenção de todos: o pregador passou a gritar e a dar rodopios incessantes no meio da sala. E quando me dei conta, todos os outros irmãos da igreja, já estavam pulando e rodopiando. Uma onda de histeria tomou conta daquele ambiente… Foi a primeira vez que tive contato com o "jeito pentecostal" de se pregar o evangelho.
No final da mensagem, o pregador dá início ao que chamamos de “apelo”, que é quando se faz o convite para quem deseja aceitar a Cristo. O problema foi que o convite, veio carregado de culpa, medo e imposição. Nesse dia, minha irmã havia levado uma amiga, que iria estudar com ela em casa e foi justamente essa amiga, o alvo do pregador.
De forma constrangedora, ele se direcionou para a jovem e disse que ela iria morrer se não aceitasse a Jesus, e que através de uma "revelação", ele viu que haviam feito um "trabalho maligno'' contra a vida dela. Se sentindo totalmente acuada, a jovem não teve outro jeito, e mesmo constrangida, acabou aceitando a Cristo. Ao olhar para os meus pais, percebi que eles estavam perplexos com tudo aquilo, e minha irmã, estava totalmente envergonhada e sem palavras.
Esse dia ficou marcado em minha vida, e com toda certeza, ficou marcado na vida dos que estavam presentes em minha casa. A jovem que havia "aceitado a Cristo”, dias depois, confessou à minha irmã, que não havia aceitado de coração, e que nunca mais iria aceitar esse tipo de convite.
Depois desse episódio, passei a ter um certo receio de ir para os dias de culto na igreja que eu frequentava. Pois não queria ser coagido a dizer "sim" para Jesus, contra a minha vontade. E mesmo ainda adolescente e com pouco entendimento sobre o evangelho, tive a percepção de que não era daquela forma, que a mensagem de Cristo deveria ser apresentada.
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O Amor lança fora o medo…
Quando Jesus Cristo decidiu se entregar na cruz, Ele não o fez por medo, Ele fez porque nos ama. Provavelmente a passagem mais famosa da Bíblia, João 3:16, nos ensina justamente isso: “… Deus amou o mundo de tal maneira que deu seu único filho, para que todo aquele que nele crê não pereça, mas tenha a vida eterna.”
Jesus não quer que ninguém o siga por medo, ou por qualquer outra razão que não seja por amor. E por isso, Ele nos deixa em liberdade, para escolher qual o caminho que devemos seguir. Não há pressão, não há imposição.
“No amor não há temor, antes o perfeito amor lança fora o temor; porque o temor tem consigo a pena, e o que teme não é perfeito em amor”. 1 João 4:18
Um olhar sobre a Igreja…
Um marido, que decide cozinhar apenas para agradar a esposa, e não por medo de ser visto como preguiçoso, está demonstrando amor. Um filho que decide ajudar a mãe a arrumar a casa por vontade própria, e não por medo de ser castigado, está demonstrando amor. E é com amor, que devemos levar a mensagem de Cristo.
Como igreja, não podemos impor no outro as nossas vontades, costumes ou até mesmo, impor a nossa fé. Acredito que a mensagem da cruz, deva ser revelada de forma amorosa, da mesma forma como Deus revelou seu amor através de Jesus.
Pregações ou mensagens que intimidam, que geram medo, irão produzir no outro, culpa ao invés de amor. Irão produzir pessoas frustradas, pessoas que jamais serão libertas das amarras do pecado e que no final, só estarão fazendo número no banco da igreja, sem entender o verdadeiro chamado.
A Bíblia deve ser lida em nós. Jamais devemos usar os ensinamentos para apontar no outro, os seus erros e julgar aqueles que não aceitaram Jesus como salvador.
Já foi dito aqui antes, que pela palavra, todo aquele que não crê, será julgado e condenado, e também foi dito que esse julgamento e sua condenação, deve vir pelas mãos daquele que se fez justiça por todos nós e que um dia voltará. Mas até esse dia chegar, cabe somente à igreja, levar a mensagem de salvação, e nada mais. Pois o evangelho de Cristo sempre será um convite amoroso, jamais será uma imposição.
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Demax Silva é colunista do podcast Outside
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