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LEGADO DE RESISTÊNCIA

Obras de Bruno Cecim estarão em Milão

As obras estarão na mostra coletiva “Ambientarti”, que ocorre de 27 de abril a 6 de maio.

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Imagem ilustrativa da notícia Obras de Bruno Cecim estarão em Milão camera O artista visual Bruno Cecim trabalhou com interferências sobre fotografias que fez do povo Xikrin do Caeté, No detalhe, os três retratos selecionados para a mostra em Milão. | Bruno Cecim

O artista visual Bruno Cecim estará com três obras na terceira edição da mostra coletiva “Ambientarti”, que ocorre de 27 de abril a 6 de maio, na galeria MA-EC, localizada em Milão, na Itália. A série, intitulada “Legado”, traz imagens sobrepostas de retratos indígenas e cartografias do território brasileiro, especialmente, relacionadas à chegada dos portugueses e à invasão das terras indígenas naquele período. As sobreposições também fazem referência a uma dita “identidade” brasileira.

“Por meio de um painel de artistas internacionais, a exposição ‘Ambientarti’ permitirá a troca de diferentes visões sobre questões e oportunidades relacionadas à sustentabilidade ambiental que unem o mundo inteiro”, pontua a Art Space, instituição que organiza a coletiva, em suas redes sociais. Bruno comenta que será sua primeira participação em uma exposição internacional. “Já participei de algumas no interior e na capital de São Paulo, individuais e também coletivas, como vai ser essa, com artistas de vários países”, diz.

O artista visual explica que a oportunidade de contato com o povo Xikrin do Caeté, retratado nesta série, ocorreu durante outro trabalho, em campanha política, na cidade de Parauapebas. “Eu já tinha ido a outras aldeias, inclusive em São Paulo. E foi muito bacana fazer contato com essa etnia, fiz muitas fotos”, detalha. A partir de três retratos, Bruno propõe novas obras, com outras duas imagens sobrepostas.

“É basicamente um retrato, tem as referências cartográficas e uma impressão digital no rosto da pessoa. A obra de arte é para ser sentida, não para ser explicada, mas posso dizer que eu quis abordar a questão do meio ambiente, algo que une todos nós, segundo o próprio texto da exposição. Então nada melhor do que fazer essa reflexão com os povos originários do Brasil, os primeiros habitantes e que, mais que qualquer outro que esteve por aqui, souberam lidar muito bem com a natureza. E são esse símbolo de resistência”, afirma.

Bruno escolheu mapas que fizessem referência ao território brasileiro do período colonial “para dar referência dos invasores, não só portugueses, como alemães, holandeses, franceses, que sempre vieram tentar explorar as terras brasileiras sem ter a visão consciente sobre a natureza”. Ao contrário, diz ele, “levavam inúmeras coisas, iniciando a biopirataria. A floresta, principalmente da Amazônia, sempre foi muito explorada”.

Já a sobreposição de uma impressão digital é para falar de identidade, “porque esses povos tinham as identidades deles que o branco colonizador sempre tentou apagar, anular de alguma forma, inclusive tentando dizer que o índio perdeu sua cultura e não é mais índio - uma mentira, porque até hoje temos muitas etnias indígenas, e que eram muito mais, porém foram sendo extintas”.

“Meu trabalho é isso, tentar falar desse povo que vivia e vive da natureza e nos deixou esse legado, essa sabedoria de lidar com a natureza sem degradar, e não soubemos aproveitar. E estão aí, mais uma vez, sofrendo esse descaso do governo. É uma participação importante em uma mostra internacional com um trabalho desse, porque você leva esse alerta em forma de arte para outras partes do planeta”, destaca o artista.

INSPIRAÇÃO EM PORTUGAL

Bruno Cecim também celebra o interesse do desenhista Sansão Antcorpus, de Parauapebas, por esta série fotográfica. Conhecido por trabalhar com imagens realísticas, ele escolheu o retrato de uma criança Xikrin, feito pelo fotógrafo, para reproduzir na linguagem do desenho. A obra será exposta durante a “Bienal Internacional Heclectik Art-Glass”, no Museu de Arqueologia, em Braga, Portugal. O evento, em comemoração ao Ano Internacional do Vidro, eleito pela ONU, ocorrerá de 7 a 30 de maio. “Ele pediu autorização minha e fez um desenho muito bonito baseado na minha foto”, elogia.

“A ideia do projeto é agregar outros artistas, para que juntos possamos mostrar nossa pegada da região, a questão amazônica, ancestral, dos traços indígenas. Decidi agregar grandes fotógrafos do Brasil para fazer os desenhos. Minha participação na bienal ocorre a convite da Heclectik-Art, sob a diretoria da Heloiza Azevedo, uma das principais curadoras de arte de Portugal”, detalha Sansão, que já vem participando de diversas exposições internacionais, incluindo uma recente no Carrousel du Louvre.

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