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CINZAS ANTECIPADAS

Escolas de samba de Belém lidam com mais um ano sem desfiles

O cancelamento anunciado pela Prefeitura de Belém foi um banho de água fria

Imagem ilustrativa da notícia Escolas
de samba de Belém lidam com mais um ano sem desfiles camera Agremiações questionam restrições e vivem incertezas | Diário do Pará

Para quem vive o Carnaval nos bastidores, é uma construção feita ao longo do ano todo. Principalmente para as escolas de samba, que começam a trabalhar assim que a festa anterior acaba. E todas as etapas envolvem custo e trabalho até a culminância no sambódromo.

Em Belém, as escolas já partiram para a etapa da abertura dos barracões, para confecção das alegorias e fantasias, quando houve o anúncio, em novembro, de que haveria carnaval em 2022. Logo, o cancelamento anunciado pela Prefeitura de Belém nos últimos dias, diante da circulação de nova cepa da covid-19, causa um duro impacto.

“Decoradores, costureiras, artesãos, chapelaria, técnicos, músicos e cantores, muitos profissionais deixam de garantir a renda de Natal, de fim de ano, é um trauma financeiro e social”, aponta Fernando Guga, diretor de Carnaval da ESA - Escolas de Samba Associadas, do 1º Grupo de Belém.

Neste caso, o cancelamento soa diferente do que houve em 2020, quando tudo estava parado. “Então, quando veio o cancelamento, veio como uma atitude que já era esperada e lógica. Este ano, ao contrário, já vínhamos numa crescente de liberação de espaço, de festa, eventos com grande público já acontecendo, como jogos de futebol, e toda a comunidade esperava ansiosamente o desfile. A maioria das escolas do grupo especial, já com ensaios de bateria funcionando, cinco ou seis, já trabalhando nos barracões. Lógico que todo mundo sabia que podia acontecer, mas foi um sentimento diferente”, comenta Glaucio Sapucay, vice-presidente da ESA.

Os dirigentes dizem entender as medidas preventivas, mas que são contraditórias com o cenário atual. “O que nos causa estranheza é essa marginalização do carnaval porque todas as outras atividades com aglomerações bem maiores que o carnaval faz, foram mantidas. Nós tivemos jogo com a Curuzu e o Baenão lotados [público de 13,8 mil pessoas], tem shows nacionais todos mantidos, com venda de ingresso. E no carnaval que a gente faz [na Aldeia Cabana, com capacidade máxima de 6 mil pessoas] tem controle de quem entra na arquibancada, quem vai para o camarote, para quem desfila. Esse controle já existe independente de pandemia, tem contagem de catraca para a entrada na avenida. Mas só cancelaram o carnaval, assim parece que o vírus é seletivo”, diz Guga.

O grupo explica que as escolas costumam alugar espaços para fazer deles seus barracões de construção dos carros alegóricos e outros itens do carnaval. A contratação de pessoal também é temporária e a encomenda de materiais é feita com antecedência para garantir que chegue tudo a tempo. “Algumas pessoas que estavam trabalhando, foram ou vão ser demitidas. Quem tinha um espaço e estava trabalhando vai ter que rever o aluguel. E isto gera um impacto financeiro grande. É diferente do ano passado, quando as pessoas já viram que não podiam contar com aquela renda. E fica uma grande incógnita: como as escolas vão renegociar esses contratos?”, aponta Glaucio.

Na escola Bole-Bole, por exemplo, o trabalho de construção de alegorias iniciava este mês. “São muitos artesãos. Eu tive que cancelar todos os contatos que a gente já tinha. Com as fantasias quase todas prontas, vou ter que pagar as costureiras ainda. Mas o que ainda ia ser feito, tem trabalhos pelo caminho, tiveram que parar para diminuir o prejuízo. O aluguel do barracão de alegorias é caro, tive que cancelar. É uma cadeia de gente que sai perdendo recurso, seu ganha-pão, nesse processo”, lamenta Vetinho, presidente de honra da escola.

“A gente fica com pena de uns e entende a posição de outros. O prefeito estava sendo muito batido por quem queria o cancelamento, mas não entende que cerca de 1,5 mil pessoas, por escola grande de samba, ganham dinheiro com o carnaval. Ainda tem o segundo e terceiro grupos, que têm profissionais que trabalham com isso. Embora o Dieese não fale, o carnaval mexe com o comércio, muita gente estava se preparando para isso. É um dinheiro que deixa de circular. Tem muita gente que pensa que é só diversão, mas tem muita gente que trabalha, que está promovendo uma cultura e gerando receita para muitas famílias”, completa Vetinho.

Sem os desfiles na Aldeia, Fumbel quer retomar o projeto “Carnaval o Ano Todo”, com oficinas e atividades que geram renda e movimentam as escolas de samba
📷 Sem os desfiles na Aldeia, Fumbel quer retomar o projeto “Carnaval o Ano Todo”, com oficinas e atividades que geram renda e movimentam as escolas de samba |Olga Leiria/Arquivo Diário do Pará

NOVAS DISCUSSÕES COM FUMBEL SÓ OCORRERÃO EM JANEIRO

O presidente da Fundação Cultural de Belém-Fumbel, Michel Pinho, ressaltou que o órgão reconhece os impactos do cancelamento dos desfiles. “Desde o anúncio do cancelamento se discute na Fumbel as continuidades do projeto ‘Carnaval o Ano Todo’, um trabalho que foi iniciado desde o último carnaval, por causa da pandemia. Sabemos que ele é um gerador de emprego e renda e é dever da Fumbel salvaguardar os trabalhadores da cultura e suas funções”, pontua. No entanto, a retomada das discussões de como haverá apoio a esses profissionais só deve ocorrer por parte do órgão em janeiro. “Neste momento também não há nenhuma deliberação sobre carnaval de forma virtual. O que temos é o cancelamento das atividades presenciais”, acrescenta.

Quanto aos blocos, houve uma reunião já nesta semana. “Reunimos com os blocos para pensar a possibilidade de subvenção, nesse caso, os blocos de enredo, de desfile. Quanto aos eventos privados, de pré-carnaval na Cidade Velha, casas de show, não são de competência da Fumbel”, explicou Michel. Baseado no cadastro de profissionais que atuam no setor, a Fumbel aponta quase 2 mil trabalhadores ligados ao Carnaval de forma direta; e quase 16 mil pessoas indiretamente.

A vice-presidente da escola Os Colibris, Vera Goretti, diz que espera a continuidade do projeto da Fumbel. “Com ele, as escolas estão desenvolvendo oficinas para produção deste carnaval que ia acontecer, já estavam com suas instrutoras ensinando. E a gente tenta olhar o lado positivo de mais esse adiamento, que é ter mais tempo para aprimorar nosso desfile para o ano vindouro, em 2023, que as escolas possam vir mais belas, sem correria, mostrando um trabalho mais evoluído. Nossa esperança é o projeto continuar, isso que estava alimentando a base carnavalesca, as nossas produções”, explica.

Diretora de produção de fantasia e costureira da escola desde a sua fundação, em 2002, Benedita Andrade também tem essa expectativa de que o trabalho continue. “Sou uma fundadora do Colibri. Quando o presidente fundou, o Gavião, eu já costurava para ele na Embaixada, e quando veio, me trouxe junto. Vi a escola nascer e estou vendo ela crescer. Eu vou na direção do andar, então vamos fazer o que dá. O trabalho estava corrido, agora vamos com calma. Eu sei que quebra muito a gente porque é um trabalho de onde a gente tira um pouco [de renda], e a situação do jeito que tá… Mas fazer o quê?”.

As escolas ainda devem manter algumas programações já previstas. No próximo domingo, 12, por exemplo, a Bole-Bole recebe o Arraial do Pavulagem para fazerem juntos uma homenagem a Ronaldo Silva, tema do próximo enredo da escola. E Os Colibris faz o evento de lançamento de seu samba-enredo, em homenagem à professora e ativista Zélia Amador de Deus. Ambos os eventos acontecem em suas sedes. “Agora é ensaiar o samba até poder ir para a avenida, deixar o povo tomar conhecimento dele para ser entoado no próximo carnaval”, projeta Benedita.

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