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Leitores paraenses falam sobre a importância de Rubem Fonseca para a literatura

Prestes a completar 95 anos de idade, o escritor Rubem Fonseca faleceu na última quarta-feira, 15, no Rio de Janeiro, e deixou marcas entre seus leitores paraenses. Para o escritor Ney Paiva, alguns traços relevantes do autor, como a inovação e a coragem

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Imagem ilustrativa da notícia Leitores paraenses falam sobre a importância de Rubem Fonseca para a literatura camera Rubem Fonseca morreu na última quarta-feira (15) aos 94 anos. | Zeca Fonseca/Divulgação

Prestes a completar 95 anos de idade, o escritor Rubem Fonseca faleceu na última quarta-feira, 15, no Rio de Janeiro, e deixou marcas entre seus leitores paraenses. Para o escritor Ney Paiva, alguns traços relevantes do autor, como a inovação e a coragem da produção textual, foram relevantes em um cenário tão hostil como o da ditadura militar, período em que ele demarcou seu espaço na literatura nacional, usando o ato de escrever como trunfo para se expressar.

“A inovação literária do Rubem Fonseca se concentra na experimentação e diversificação das personagens, elas surpreendentemente surgem do submundo, da marginalidade – ladrões, prostitutas, policiais, padres, heróis – e são conduzidas para a cena principal da narrativa, ou seja, não fazem mais parte de um eixo secundário da história, tornam-se protagonistas. Tudo isso aliado aos registros oralizantes da linguagem, à fragmentação da escrita e à utilização das frases curtas”, descreve Ney.

Ele conta que Rubem Fonseca surge na década de 1960 com o livro de contos “Os Prisioneiros”, que já traz todas essas marcas, junto com autores decisivos da literatura contemporânea, como Moacyr Scliar, Dalton Trevisan e Luiz Vilela. “Rubem Fonseca se tornou um dos escritores mais emblemáticos da língua portuguesa nesse campo experimental que surgiu nos anos 1960, e que ainda continua agitando nossa imaginação”, considera.

Além dos aspectos formais marcantes citados por Ney, ele vê na obra de Rubem Fonseca um fio condutor bem definido: a preocupação com a liberdade. “Ele surge como escritor no período de uma ditadura militar e sob forte repressão, e se concentra no tema da liberdade, não só da livre criação e da liberdade de expressão, mas também da liberdade política e social, de se poder reconfigurar vidas e escolhas, de lidar com as agruras da vida real e com os sonhos individuais. Em 1967, Rubem Fonseca lança seu terceiro livro de contos, “Lúcia McCartney”, que demarca todo esse aspecto da liberdade, apresentando uma nova maneira de lidar com a linguagem e acentuando o tom de crítica social”, aponta.

Rubem Fonseca, ainda segundo Ney Paiva, “transforma cenas cotidianas em histórias fascinantes” e não facilita a leitura. “Pelo contrário, busca parceria nessa empreitada, não necessitando de um leitor-ideal, apenas de um que seja atento. Rubem Fonseca se ‘aproveita’ de sua técnica literária apurada, uma escrita repleta de citações, alusões e pistas falsas, para dar vida a textos que possibilitam uma reflexão sobre os temas, mas que quase sempre surgem camuflados, encobertos à primeira vista, ávidos por sua decifração”, completa.

Ney aponta algumas obras de autoria de Rubem Fonseca que são fundamentais para entender a importância que ele teve na literatura nacional. “O livro de contos ‘Feliz Ano Novo’, publicado em 1975, é fundamental, assim como o seu segundo romance, ‘A Grande Arte’, publicado em 1983. Tem ainda o estranhíssimo ‘A Coleira do Cão’, livro de contos publicado em 1965, onde ele vai radicalizar o aspecto poético da narrativa, mas sempre aliada à crueza e objetividade dos outros livros”, lista.

Novo patamar literário

Para o jornalista Elias Pinto, a literatura de Rubem Fonseca elevou o romance policial a um patamar de alta literatura, oferecendo ao leitor uma nova visão sobre os registros de assassinatos que compunham suas histórias. “Rubem Fonseca, principalmente a partir dos anos 1960, deu à literatura policial um status de alta literatura. De certa forma, ele foi nos transportando para um romance policial norte-americano feito por autores como, por exemplo, Raymond Chandler, que nos trouxe um olhar sobre o crescimento de temas ligados à urbanidade, sobretudo os crimes”, analisa.

O romance policial então muda não só de status, mas também de ambiente. “Antes era Ágatha Christie que mostrava que os crimes aconteciam no meio da biblioteca. Já Rubem Fonseca, assim como os escritores norte-americanos, tirou o crime do meio da biblioteca e colocou no meio da cidade. Ele trouxe a literatura policial literalmente para o chão”, analisa Elias, destacando que o olhar aguçado às ruas trouxe a inspiração para a ficção.

“De certa forma, o Rubem trouxe isso. Ele acompanhou o crescimento dos crimes e trouxe isso para a literatura policial com uma linguagem literária que se alimentava dos grandes clássicos brasileiros e mundiais. Suas histórias mostravam criminoso sfazendo assassinatos terríveis, mas ao mesmo tempo ele era movido pelas vozes da cultura. Ele teve a genialidade de criar clássicos que permeavam entre as vozes da barbárie e as vozes da cultura”, define o jornalista, que dedica sua coluna nesta edição do DIÁRIO a republicar alguns de seus textos em referência a Rubem Fonseca ao longo dos anos.

FOTOGRAFIA

A organização do Prêmio Diário de Fotografia também externou solidariedade ao falecimento do escritor. Neste ano o Prêmio, uma realização do DIÁRIODO PARÁ, escolheu uma obra de Rubem Fonseca para retratar o tema desta edição: “Vastas emoções e pensamentos imperfeitos” (veja mais na página ao lado).

Curador do Prêmio, Mariano Klautau Filho soube da notícia com pesar. “O Diário Contemporâneo de Fotografia tem a fotografia como eixo, mas sempre se abriu para as mais abrangentes conexões com as Artes Visuais e outras linguagens relativas à imagem. E a literatura é uma dessas possibilidades de diálogo com a imagem. A escolha pela obra do Rubem Fonseca se deu pelo apelo à imagem, à imaginação e ao envolvimento com a narrativa do cinema pelo protagonista do romance. Além disso, o título é um dos mais belos e imaginativos da literatura brasileira. É uma ótima provocação ao artista visual e ao fotógrafo pensar no romance e no seu título”, diz o curador “A sensação diante da morte dele é de tristeza, mas também é saber que fazemos essa homenagem pensando nele vivo e não depois de sua morte”, pontua.

Enquanto leitor, Mariano Klautau diz que conhecia a obra do escritor desde a juventude. “Comecei a ler o Rubem Fonseca bem jovem e fiquei bastante impressionado com história do livro ‘O Cobrador’ e ‘Lúcia MCartney’. Esses livros marcaram minha vida de leitor. Rubem Fonseca pra mim é um dos maiores contistas da literatura contemporânea no Brasil. Suas histórias são muito urbanas e possuem às vezes um estilo direto, seco, diferente da tradição de uma escritura mais rebuscada que encontramos fartamente na produção do Brasil, além de ser imagética. Ele criou um espaço para histórias que têm uma atmosfera urbana e policial bem singular na nossa produção. Algo que era uma espécie de cinema na literatura”, destaca.

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