Há séries que envelhecem, e há séries que crescem - e Stranger Things escolheu a segunda opção. O desaparecimento de uma menina, a busca desesperada de seus colegas e a tentativa de bolar um plano infalível para desvendar o mistério voltam à cena nesta quarta-feira (26), quando a Netflix estreia a última temporada de uma produção que, antes de ser um fenômeno cultural, tornou-se um espelho nostálgico de si mesma. Agora, com adultos e adolescentes quebrando a cabeça para solucionar um enigma familiar ao público desde 2016, a narrativa retorna ao ponto de partida, mas com a bagagem de nove anos de hype, maratonas e debates.
Famosa por ressuscitar os anos 1980 em neon, trilhas sintetizadas e bicicletas a caminho do desconhecido, a série encerra sua trajetória transformando memória em estética planejada - e seu elenco em testemunho vivo da passagem do tempo. Millie Bobby Brown já não é a adolescente de cabeça raspada que encantou o mundo aos 12. Aos 21, casada e mãe, tornou-se um dos principais rostos da Netflix. Noah Schnapp, antes símbolo de fragilidade como o indefeso Will Byers, agora desperta polêmicas políticas nas redes, enquanto Finn Wolfhard dirige filmes e tenta escapar da sombra de Mike Wheeler.
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AUTORREFERÊNCIA E NOSTALGIA

Os criadores, Matt e Ross Duffer, assumem a autorreferência como bússola. Para recuperar "a sensação do começo", decidiram introduzir uma nova geração de crianças, entre elas o atrevido Derek Turnbow, interpretado pelo estreante Jake Connelly, de 13 anos. E a estrutura da temporada reforça a ideia de retorno: Vecna, o vilão da fase mais sombria da série, sequestra outra garotinha - ecoando a busca por Will na primeira temporada.
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A Netflix abraçou o clima nostálgico com festa temática em São Paulo para 12 mil pessoas, carros alegóricos e a escultura do Demogorgon, além de Xuxa cantando parabéns a Jamie Campbell Bower - sim, o Vecna em carne, osso e maquiagem.
NOVAS NARRATIVAS
Do ponto de vista do roteiro, a trama aposta em um desvio surpreendente. Enquanto Eleven, Will, Mike, Lucas e os demais se empenham em localizar o monstro e pôr fim aos portais entre mundos, a narrativa ousa deslocar o foco dos veteranos, dando protagonismo a histórias inéditas com novas narrativas.

A maturidade também alcança os temas. Will é mostrado entendendo sua homossexualidade em 1987, período em que assumir-se podia custar laços e comunidades inteiras. Seu intérprete, Noah Schnapp, que também é gay, diz ter depositado no personagem sentimentos e experiências pessoais. "Há uma diferença entre falar sobre esse tipo de coisa nos anos 1980 e passar por isso agora, como foi comigo. Mas tentei incluir meus sentimentos na interpretação, para deixar o personagem mais autêntico."
Já a presença de Robin Buckley, vivida por Maya Hawke, consolidou uma personagem queer relevante em uma produção mainstream voltada ao público jovem, algo raro até pouco tempo atrás.
FENÔMENO POP E COMERCIAL
O fenômeno, porém, não se limita à tela. Stranger Things consolidou a lógica da maratona, ajudou a Netflix a se firmar como produtora global, virou peça de teatro em Londres e na Broadway e alimenta uma máquina de merchandising que inclui waffles, pipoca que gela a boca, pizza e maionese temática. Mesmo não sendo a série mais vista da plataforma - posição ocupada hoje por Wandinha - é, de longe, sua franquia mais lucrativa e reconhecível.
A ambição tem preço: episódios agora flertam com a hora e meia de duração, e a última temporada levou três anos para ficar pronta, atravessando pandemia e greve de roteiristas. Para alongar o suspense, a Netflix optou por lançamentos em três etapas - Volume 1 nesta quarta, mais três capítulos no Natal e o derradeiro episódio na virada do ano.
Entre despedidas, homenagens e expectadores que também envelheceram, Stranger Things encerra seu ciclo ciente do que representa: uma cápsula afetiva, um estudo sobre amizade e medo, uma vitrine para novas carreiras e, sobretudo, um lembrete de que crescer pode ser tão assustador quanto enfrentar o Mundo Invertido.
SERVIÇO
- "Stranger Things" - Quinta e última temporada
- Volume 1 (quatro episódios): 26/11, às 22h
- Volume 2 (três episódios): 25/12, às 22h
- Último episódio: 31/12, às 22h — na Netflix
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