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"Hit Parade" retrata picaretagem do pop brasileiro de 1980

Com base na realidade, a série traz falcatruas da indústria fonográfica, com a colaboração de programas de rádio e TV

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Imagem ilustrativa da notícia "Hit Parade" retrata picaretagem do pop brasileiro de 1980 camera Série mostra programas de TV dos anos 80 | Reprodução

Quem assistir aos oito episódios de "Hit Parade", série que estreia nesta sexta no Canal Brasil e que também estará no Globoplay, pode até pensar que a trama exagera nos esquemas de picaretagem exibidos num retrato muito engraçado do mercado musical do país nos anos 1980. É uma coleção de falcatruas da indústria fonográfica, com a colaboração de programas de rádio e TV a divulgar todas elas. No entanto, tudo está embasado na realidade.

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Em 2014, o jornalista, escritor e cineasta André Barcinski lançou o livro "Pavões Misteriosos", pelo selo editorial Três Estrelas, contando histórias de grandes nomes da canção popular, como Odair José e Sidney Magal. Por trás dos hits dos anos 1970 e 1980, muitos golpes arquitetados por gravadoras grandes e pequenas, incluindo discos gravados por imitadores de cantores de sucesso ou brasileiros se passando por astros internacionais, como Mark Davis, na verdade Fábio Jr.

Essa terra de ninguém, com leis burladas sem pudor, inspirou Barcinski na criação de dois projetos -uma série documental, entrevistando os protagonistas dessas trapaças, e outra, dramática, usando em ficção esse arsenal de histórias tão absurdas que parecem até inventadas.

Barcinski conta que entregou a ideia do seriado ficcional ao Canal Brasil em dezembro de 2015. Logo depois, em fevereiro de 2016, estreou nos Estados Unidos a série "Vinyl", produzida por Martin Scorsese, sobre os bastidores de uma gravadora.

"Como a produção de visual no Brasil tem um caminho demorado, já imaginei que muita gente poderia dizer que eu copiei a ideia, mas não foi nada disso", lembra. E realmente demorou, enquanto o projeto esperava apoio do Fundo Setorial do Audiovisual.

Foi finalizada antes a série documental de Barcinski, "A História Secreta do Pop Brasileiro", de 2019, atualmente reprisada no canal Music Box Brazil. Nesta, o humor é farto mas involuntário, vem das condições bizarras do trabalho dos artistas por trás dos maiores hits radiofônicos no Brasil. Já em "Hit Parade", a comédia descarada prevalece.

A série é dirigida por Marcelo Caetano, do elogiado "Corpo Elétrico", que levou as filmagens para Belo Horizonte, segundo ele uma metrópole não tão desfigurada recentemente como São Pulo ou o Rio de Janeiro, e assim ainda preservando um cenário para os anos 1980.

"Fizemos muita pesquisa do visual da produção de cinema da época. A série tem um olhar de hoje, claro, mas era importante criar um pacote visual como o daquela década. Houve muito trabalho de correção de cor", diz o cineasta.

Segundo Barcinski, a proposta era mostrar um lado dos anos 1980 mais cinza, diferente do cenário colorido de outras produções. "Muito néon, brilho, Blitz, 'Armação Ilimitada', garotas de biquíni. Esse é o retrato habitual, mas apenas uma parte do todo. Acho que mostramos outro, inclusive na fotografia da série, na qual eu vejo semelhanças com os filmes do Neville d'Almeida ou do Walter Hugo Khouri, também dessa época."

Os atores não são figuras tão conhecidas do grande público. O compositor Simão, papel de Tulio Starling, e sua namorada Lidia, a atriz Bárbara Colen, de "Bacurau", travam um duelo comercial com o produtor musical Missiê Jack, papel de Robert Frank.

Depois que Jack rouba a autoria de uma canção de Simão que faz sucesso com o cantor brega Ivanhoé, o casal resolve fundar uma gravadora, a Sensacional Discos, repetindo os esquemas ilegais do produtor. O embate entre eles conduz a série, produzida pela Kuarup, que coincidentemente também é uma gravadora.

"A ideia é mostrar em cada episódio um dos trambiques comuns da época. Então num deles há a gravação de um disco falso, com um anônimo regravando hits como se fosse o ídolo popular Carlos Alexandre, em outro tem um falso cantor gringo, que na verdade nem sabe falar inglês, ou então o Enzo, um personagem que não tem nada de cigano mas assume esse perfil, claro que inspirado no Sidney Magal", conta Barcinski, rindo.

Impossível não dar gargalhadas com o segundo episódio, quando Simão e Lidia inventam uma versão brasileira do astro pop sueco Terry Holliday, que aprende foneticamente um inglês tosco para entrevistas hilárias nas rádios e na TV.

Caetano e Barcinski concordam que é uma série sem "mocinhos". "Todos fazem coisas ilegais, mas são mostrados sem julgamento moral. É um cenário sem lei, e não dá para evitar uma comparação com o Brasil real", diz o diretor, que vê nisso um resgate de um tipo de personagem que já foi comum no cinema brasileiro.

"É uma malícia, uma esperteza que foi apresentada em muitos filmes dos anos 1970 e 1980, mas que foi sendo deixada de lado nos últimos tempos."

A proposta é reunir requinte visual, situações cômicas, personagens amorais e participação de algumas estrelas da música brega, como o cantor Ovelha, muito engraçado como o dono de uma pousada. "Ovelha foi incrível! Ele improvisou o tempo todo", conta Barcinski, repetindo algumas falas criadas pelo ator e cantor.

"Hit Parade" acaba sendo atraente para quem busca descobrir mais sobre a história do pop brasileiro e também para quem só procura uma série para dar muitas risadas.

HIT PARADE

Quando Estreia 21 de maio; Novos episódios às sextas, às 22h30, no Canal Brasil; Série completa disponível na GloboPlay (o 1º é aberto a não assinantes por uma semana)

Elenco Tulio Starling, Bárbara Colen e Robert Frank

Direção Marcelo Caetano

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