
Um hábito que parece inofensivo, o de levar o celular ao banheiro, na verdade pode ser mais prejudicial do que se imagina. Um estudo cientifíco realizado por pesquisadores estadunidenses indica que o uso de smartphones enquanto se está sentado no vaso sanitário está associado a um aumento de quase 50% no risco de desenvolver hemorroidas, condição médica que representa a terceira causa mais comum de consultas gastrointestinais ambulatoriais.
Os resultados foram publicados em setembro na revista científica Plos One. Os pesquisadores aplicaram questionários sobre o uso do celular no banheiro e investigaram hábitos comportamentais, como esforço evacuatório, consumo de fibras e prática de atividade física. Participaram da pesquisa 125 adultos submetidos a colonoscopia de rotina entre agosto e dezembro de 2024. Desses, 43% apresentavam hemorroidas visualizadas no exame.
Os dados obtidos revelaram que 66% dos participantes utilizavam o celular no banheiro, seja para ler notícias, navegar nas redes sociais ou simplesmente passar o tempo. Entre eles, a probabilidade de apresentar hemorroidas foi 46% maior em comparação com quem não tinha esse costume, mesmo após o ajuste para fatores clássicos de risco, como idade, sexo, índice de massa corporal (IMC), nível de atividade física e ingestão de fibras.
Segundo os pesquisadores, o tempo de permanência no vaso sanitário é um dos principais fatores que explicam a associação com o aumento do risco. Entre os que usavam o celular no banheiro, 37,3% relataram permanecer sentados por mais de cinco minutos, contra apenas 7,1% dos que não utilizavam o aparelho. Esse tempo prolongado exerce pressão sobre os vasos sanguíneos da região anal, favorecendo o aparecimento das hemorroidas.
Entenda o que são as hemorroidas
As hemorroidas são veias normais que todos temos no ânus. Elas se tornam uma doença quando sofrem dilatação, provocando caroços, dor e sangramento. “Elas se tornam uma doença hemorroidária quando há dilatação desses vasos, causando prolapsos, caroços e sangramento”, explica a coloproctologista Patrícia Romero Prete, do Hospital Municipal de Aparecida de Goiânia – Iris Rezende Machado (HMAP), unidade pública gerenciada pelo Einstein em Goiás.

De acordo com a médica, os sintomas incluem coceira, inchaço, dor, secreção e sangramento. A Sociedade Brasileira de Coloproctologia estima que cerca de 50% da população brasileira já teve ou terá uma crise hemorroidária. “A maioria das pessoas não procura o médico por tabu ou vergonha, mas esse é um problema bastante comum”, destaca Prete.
Celular: um novo fator de risco
Embora causas como constipação intestinal, esforço excessivo para evacuar, dieta pobre em fibras e sedentarismo sejam conhecidas, o uso do celular no banheiro surge como um novo agravante. “Esse é um tema frequente no consultório. As pessoas carregam o celular para todos os lugares e o banheiro, muitas vezes, é o único momento em que conseguem ficar sozinhas e desconectar dos problemas. Isso se tornou um novo fator de risco que não existia antigamente”, afirma a médica.
O motivo é fisiológico: permanecer muito tempo sentado no vaso aumenta o esforço evacuatório e a pressão sobre os tecidos que sustentam as hemorroidas. “Imagine você somar dez minutos por dia, todos os dias, nessa posição ao longo dos anos. Isso provoca uma queda forçada das mucosas, causando dilatação, dor e sangramento”, explica.
Diagnóstico e prevenção
O diagnóstico é feito pelo coloproctologista, por meio de exame físico e toque retal. Em alguns casos, pode ser necessária uma colonoscopia. O tratamento varia conforme a gravidade e pode incluir pomadas, medicamentos ou cirurgia.
A orientação principal é simples: vá ao banheiro apenas para evacuar. “Temos que sentir a vontade de evacuar e entrar sem nada no banheiro — sem celular, sem revista, sem livro. O ideal é evacuar em três a cinco minutos. Se não conseguir, levante-se e volte depois”, recomenda a especialista.
Prete reforça ainda que, embora hemorroidas não causem câncer, seus sintomas podem se confundir com doenças mais graves. “Qualquer alteração na região anal deve ser avaliada por um proctologista. Não adianta recorrer à automedicação ou tentar diagnóstico por inteligência artificial. Só o especialista pode diferenciar o que é benigno do que pode ser mais sério”, alerta.
Fonte: Metrópoles
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