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CONSUMO E COMPORTAMENTO

Morango do Amor: desejo, memória e consumo sensorial

Por trás da crosta crocante e do brilho vermelho, há uma série de fatores que explicam o sucesso repentino do doce que além de despertar curiosidade e desejo, tem salvado a renda de inúmeros empreendedores em todo o país.

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Imagem ilustrativa da notícia Morango do Amor: desejo, memória e consumo sensorial camera Mais do que sabor, o sucesso revela gatilhos emocionais, comportamentais e sociais que dialogam com o momento em que vivemos. | Reprodução

O Morango do Amor se espalhou pelo Brasil como uma febre. De mercados populares a vídeos virais, o doce feito com morango fresco, brigadeiro e uma calda crocante conquistou o paladar — e o feed — de milhões. Mas por que ele virou tendência tão rapidamente? Mais do que sabor, o sucesso revela gatilhos emocionais, comportamentais e sociais que dialogam com o momento em que vivemos.

Para entender esse fenômeno, é preciso olhar além do açúcar: entra em cena a psicologia do consumo, o poder do marketing espontâneo e o resgate da identidade nacional.

O que é consumo regressivo?

O chamado consumo regressivo é um fenômeno da psicologia do consumo em que o objeto de desejo vai além da mera necessidade de pertencimento. Nesses momentos, as pessoas buscam produtos ou experiências que evocam memórias afetivas e nostálgicas, remetendo à infância ou a tempos mais simples e seguros. Isso ocorre, especialmente, em períodos de estresse coletivo, como crises econômicas, instabilidade política, guerras ou pandemias.

Em vez de apenas acompanhar modas, o consumidor regressivo deseja reviver emoções passadas como forma de lidar com o presente.
📷 Em vez de apenas acompanhar modas, o consumidor regressivo deseja reviver emoções passadas como forma de lidar com o presente. |Reprodução

Em vez de apenas acompanhar modas, o consumidor regressivo deseja reviver emoções passadas como forma de lidar com o presente.

Exemplos conhecidos:

  • Brinquedos como LEGO, Furby Tamagoshi e (crise de 2008, 2013, 2020);
  • Livros como Jardim Secreto (Brasil, 2015);
  • Alimentos afetivos: cupcakes, brigadeiro gourmet, paletas mexicanas;
  • Releituras nostálgicas nas redes sociais com músicas e vídeos dos anos 80, 90 e 2000.

O apelo sensorial e o ASMR

O Morango do Amor desperta sentidos. Visualmente chamativo, com a calda vermelha brilhante sobre o verde da fruta, ele se destaca nas redes. Mas o sucesso vai além da estética: o som da mordida — o famoso “crack” — ativa o ASMR, uma resposta neurológica que proporciona relaxamento e prazer.

O doce não só é gostoso, como “parece gostoso” antes mesmo de ser provado. E isso é combustível para viralizar.

FOMO e Efeito Manada

Nas redes sociais, o doce virou assunto: vídeos, comentários, receitas e avaliações pipocam por todo lado. Isso gerou o que a psicologia chama de FOMO (Fear Of Missing Out), ou medo de ficar de fora e o Efeito Manada.

A viralização do Morango do Amor gerou o famoso FOMO, que impulsiona o efeito manada, fazendo com que as pessoas se sintam compelidas a seguir a maioria, mesmo que seja apenas para entender o "porquê de tanto falatório". Há os pioneiros, as pessoas do "hype" e, por fim, a maioria que se engaja pelo efeito manada.

O morango do amor rapidamente tomou conta das redes e se tornou uma verdadeira febre.
📷 O morango do amor rapidamente tomou conta das redes e se tornou uma verdadeira febre. |Reprodução

O resultado? Um poderoso efeito manada, onde o desejo coletivo alimenta a própria demanda — mesmo entre aqueles que sequer gostam de doce.

Uma novidade com cara de clássico

O sucesso também está na reinvenção: o Morango do Amor lembra a tradicional Maçã do Amor, mas com sabores mais populares e disponíveis o ano inteiro.

Com isso, tornou-se acessível, instagramável e atemporal, combinando com o gosto das novas gerações e com as tendências digitais.

O desafio “do ódio”: uma febre caseira

A dificuldade de encontrar o doce pronto impulsionou um novo fenômeno: o “Morango do Ódio”. A nova trend mostra pessoas que tentaram fazer o doce em casa, com sucesso ou frustração — e compartilham tudo nas redes.

O processo virou experiência coletiva, aumentando ainda mais o alcance da tendência e engajando quem não queria ficar de fora da brincadeira.

O sabor da brasilidade

Ao contrário de outras modas gastronômicas recentes importadas (como pistache, iogurte grego e Nutella), o Morango do Amor tem DNA nacional. Ele une dois ícones da cultura brasileira: o brigadeiro e a referência às festas juninas (no nome "do Amor").

Tido como uma releitura da tradcional maçã do amor, presente principalmente nas festas juninas, o morango do amor ganhou força nas redes.
📷 Tido como uma releitura da tradcional maçã do amor, presente principalmente nas festas juninas, o morango do amor ganhou força nas redes. |Reprodução

Com isso, se tornou símbolo de identidade, afeto e resistência cultural frente ao domínio das tendências internacionais.

Doce que sustenta: apoio ao empreendedorismo feminino

Mais do que moda, o Morango do Amor se tornou também meio de vida. Muitas mulheres passaram a produzir o doce como fonte de renda, utilizando das próprias redes sociais para vender a guloseima e contar suas histórias.

Assim, o fenômeno está diretamente ligado ao empreendedorismo feminino e à economia afetiva e informal.

O reflexo de um tempo

O Morango do Amor não é apenas uma sobremesa. É um reflexo dos nossos afetos, das nossas fragilidades e das formas como buscamos alívio em meio ao caos. Por meio da nostalgia, da estética, da internet e da cultura popular, ele se consolidou como símbolo de um tempo que anseia por leveza e conexão.

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