
Teve início na manhã desta quarta-feira (7), no Fórum de Marabá (PA), o julgamento do tatuador Willian Araújo Sousa, acusado de assassinar e ocultar o corpo da também tatuadora Flávia Alves Bezerra, em abril de 2024. O caso, que gerou forte comoção local e mobilização nas redes sociais, está sendo julgado por um júri popular, mais de um ano após o crime.
Logo nos momentos que precederam o julgamento, a mãe da vítima, Paula Carneiro, desabafou diante das câmeras.
“Foi uma covardia muito grande. Tem um ano e três meses que não durmo direito. Hoje a justiça vai prevalecer”, disse ela, emocionada.
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Paula relatou a dor de enfrentar o acusado no tribunal, relembrando a convivência próxima entre ele e a filha. Will Sousa era tatuador, colega de profissão e conhecido da família. Segundo a mãe, ele costumava ir até a casa de Flávia buscá-la para eventos de trabalho.
"É muito difícil, muito difícil para mim depois de um ano. Um ano, três meses e 24 dias, sofrendo, e encarar ele aqui. Trabalhava junto com a minha filha. Ia buscar a minha filha lá em casa para fazer as tatuagens e fez isso com a minha filha. Foi uma covardia muito grande". Relatou Paula.
Entenda o caso
Flávia Alves, de 24 anos, desapareceu em 14 de abril de 2024, após sair para um bar com a prima, em Marabá. No local, ela encontrou o também tatuador Will Sousa, com quem passou a noite consumindo bebidas alcoólicas. Os dois foram vistos juntos por câmeras de segurança e testemunhas até a manhã seguinte.
A jovem desapareceu após entrar no carro dele, e não foi mais vista
Após dias de buscas e apelos da família, o corpo de Flávia foi encontrado em 26 de abril, enterrado em uma cova rasa em Jacundá, município vizinho. A Polícia Civil concluiu que Will Sousa foi o autor do crime. A esposa dele, Deidyelle de Oliveira Alves, responde por ocultação de cadáver, mas responde em liberdade.
Defesa nega feminicídio
A advogada de defesa, Cristina Longo, afirmou que a equipe está preparada e vai trabalhar para descaracterizar o crime como feminicídio.
“Viemos com técnica, humildade e humanidade. Vamos mostrar que não há feminicídio”, declarou. A defesa também reforçou que está satisfeita com a composição do júri e promete uma atuação técnica e clara.
Acusação quer condenação máxima
Já o advogado de acusação, Diego Souza, que atua junto à promotoria, declarou que a expectativa é de uma condenação proporcional à gravidade do crime:
“A acusação espera que os jurados se convençam da brutalidade do crime. A família quer justiça e que ele saia daqui direto para o presídio”, disse.
A promotoria sustenta a tese de feminicídio, dada a motivação ligada à condição de gênero da vítima e à brutalidade do assassinato.
Mobilização da família nas redes
Durante todo o período de investigação, a mãe de Flávia mobilizou milhares de pessoas pelas redes sociais, publicando fotos, depoimentos e pedidos por justiça. Segundo ela, isso foi essencial para manter o caso em evidência.

“Contei cada dia, cada instante. Não quero vingança, eu quero justiça — a da terra e a de Deus”, afirmou Paula Carneiro.
O julgamento deve seguir ao longo do dia. A imprensa e o público acompanham com atenção o andamento do caso, que chocou a região sul do Pará.
Feminicídio no Brasil: um panorama
- Número recorde: Em 2024, foram registradas 1.492 vítimas de feminicídio, uma média de quatro por dia—o maior índice desde a tipificação do crime em 2015;
- Perfil das vítimas: A maioria das vítimas era mulher negra (63,6%), com idade entre 18 e 44 anos (70,5%), e morreu dentro de casa por companheiro ou ex-companheiro;
- Deficiência na proteção: Mais de 555 mil medidas protetivas foram concedidas em 2024. Dessas, mais de 100 mil foram descumpridas, e 28,3% das mulheres mortas já estavam sob proteção;
- Somatório de vidas perdidas: De 2015 a 2023, ao menos 10.655 mulheres foram vítimas de feminicídio no Brasil.
Recursos e apoio às vítimas
- Ligue 180 – Central de atendimento à mulher, gratuita e 24h; também disponível via WhatsApp e Telegram;
- Casas da Mulher Brasileira – Espaços de acolhimento, apoio jurídico, psicossocial e, em alguns casos, abrigo temporário;
- Denúncia e proteção: Em situação de risco imediato, ligue 190.
Denúncias podem ser feitas de forma anônima e encaminhadas a órgãos especializados.
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