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MISTURA BRASILEIRA

Vídeo: culturas afro e indígena temperaram o banho de cheiro

Como a formação cultural do Brasil, o banho de cheiro é uma grande mistura não apenas de ervas, mas de elementos católicos e dos povos originários com contribuições do continente africano.

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Imagem ilustrativa da notícia Vídeo: culturas afro e indígena temperaram o banho de cheiro camera Michel Pinho é professor e pesquisador da cultura paraense. | Reprodução/Instagram

É comum falar em banhos de cheiro durante períodos festivos, como nas tradições alusivas a São João e Santo Antônio e nos rituais de passagem de ano. De origem indígena, os banhos de ervas mudaram ao longo do tempo. Com a chegada dos portugueses e o tráfico de escravizados africanos, essa prática se diversificou e incorporou novos elementos.

No final das contas, o banho de cheiro, como é conhecido hoje, é reflexo da formação cultural brasileira, neste caso, com influências do catolicismo, mas também enriquecida pelos rituais afro e dos nativos que aqui já estavam antes dos europeus aportarem com suas caravelas.

No preparo do banho de cheiro, são usadas ervas como chega-te-a-mim, erva de São João, manjericão, jalapão, estoraque, pataqueira, priprioca, patchouli, entre outras. As ervas são lavadas, cortadas e misturadas com água pura ou água de colônia em uma bacia ou alguidar para intensificar o aroma. O banho pode ser feito tanto pelas erveiras, que vendem os banhos já prontos ou pelos próprios consumidores, que podem comprar os elementos e fazer o banho em casa.


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Os banhos de cheiro acabam apaziguando, diminuindo diversas demandas psicológicas e sociais que precisam de tranquilidade e fé.

Michel Pinho, Historiador e pesquisador
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Os banhos são utilizados, sobretudo, em festas tradicionais, como o Círio de Nazaré e o período de São João. Para os festejos do santo junino, a tradição é preparar o banho no dia 23 para tomar no dia 24 de junho. Muitas pessoas, inclusive, optam por fazer o ritual logo à meia-noite.

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De acordo com o professor e pesquisador Michel Pinho, os banhos transcendem as festas tradicionais do estado. “Os banhos de cheiro transcendem as festas tradicionais de final de ano, festas juninas ou o Círio de Nazaré. E o motivo disso é que eles acabam apaziguando, diminuindo diversas demandas psicológicas e sociais que precisam de tranquilidade e fé”, explicou.

O professor ainda comenta sobre a origem indígena da tradição, que por muitos e muitos anos é celebrada em diversos âmbitos da sociedade e numerosas religiões, como a católica, as indígenas e as de matriz africana. “O banho de cheiro, ao longo dos séculos, já apresentava uma mistura,com outros elementos, como os de origem católica e os vindos do continente africano”, disse.

As feiras como berços da tradição e sincretismo

Essas tradições percorrem, sobretudo, as feiras de Belém e de cidades no interior do estado, como Barcarena e Abaetetuba. Vale ressaltar que o comércio dos banhos não é restrito ao Ver-o-Peso, já que podemos encontrar as ervas necessárias para fazer o ritual em feiras como a Feira da 25, no bairro do Marco, no Complexo do Jurunas e na Feira da Pedreira.

Para a religiosidade em volta das ervas, as religiões de matriz africanas são muito importantes, já que, sincretizadas com as religiões ligadas ao catolicismo trazem mais cor e aroma aos banhos que possuem origem indígena.

“A cultura afro religiosa no Pará é riquíssima, e demanda de outras tradições, como é o caso do candomblé e do tambor de mina. Para essas religiosidades é muito importante as ervas que colocam a relação entre a terra, ou seja, aquilo que é vivente e o mundo espiritual, das mais diversas manifestações, sejam elas através da cultura dos tambores ou também das figuras do babalorixás e ialorixás (pais e mães de santo)”, finaliza.

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  • Reportagem: Lucas Contente
  • Edição: Anderson Araújo
  • Imagens: Thiago Sarame

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