Quem já se deparou com as previsões de temperatura para os próximos dias ficou assustado: a estimativa é de que, em praticamente todo o país, os termômetros ultrapassem 40º C no fim do inverno, entre o fim desta semana e o começo da próxima, resultando em uma intensa onda de calor no Brasil.

No Dia da Amazônia, 5 de setembro, foi emitida uma nota técnica conjunta do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (IPAM) e do Centro de Pesquisa em Clima Woodwell que analisou a temperatura média anual nas extensões da Amazônia Legal e nas terras indígenas demarcadas, revelando uma diferença notável.

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De acordo com os resultados, a temperatura média anual nas terras indígenas protegidas por lei é, em média, cerca de 5 °C mais baixa do que nas áreas do entorno. O Território Indígena do Xingu serve como exemplo, onde a temperatura interna do território é 5 °C menor do que a encontrada nas proximidades da região.

Os dados indicam que essas características não se limitam ao Território do Xingu; estende-se por toda a Amazônia Legal. Dentro das terras indígenas, a temperatura média é 2 °C mais baixa, com uma média anual de 29 °C, em comparação com as áreas próximas não protegidas, onde a temperatura média anual é de 31 °C.

De acordo com a nota, a disparidade está na "evapotranspiração, um serviço ecossistêmico prestado pela vegetação nativa que funciona como uma ‘chuva às avessas’". Segundo a análise, a evapotranspiração é quase três vezes maior nas terras indígenas do que nas áreas desmatadas.

Enquanto na área desmatada a "chuva às avessas" é de apenas 540 mm, nas terras indígenas protegidas, ela atinge impressionantes 1.440 mm.

Com base nas análises regionais, os pesquisadores calcularam que a evapotranspiração é 9% maior nas áreas protegidas em comparação com toda a Amazônia Legal.

Segundo o estudo, “as análises indicaram que as terras indígenas da Amazônia Legal compõem um armazém gigante de carbono que, se destruído, agravará a crise climática”, liberando cerca de 55 bilhões de toneladas de carbono vivo, equivalente a 26 anos de emissões brutas de carbono do Brasil.

Além disso, a nota técnica menciona os resultados de um estudo anterior que alertou sobre o aumento alarmante do desmatamento na Amazônia, que saltou de 23 para 55 milhões de hectares. Esse crescimento resultou em uma emissão de dióxido de carbono de 7,6 para 18,7 bilhões de toneladas.

Os pesquisadores também enfatizaram a aprovação do Projeto de Lei do Marco Temporal, que tramita na Câmara dos Deputados e visa alterar a demarcação, uso e gestão de terras indígenas no país: “notou-se que, para a Amazônia Legal, a aprovação de tais propostas pode resultar no aumento de 2 °C e a região pode ter sua umidade reduzida em 9%”.

Além disso, a aprovação desse projeto “pode reverter as baixas taxas de desmatamento das terras indígenas, historicamente 20 vezes menores do que as registradas em áreas não protegidas”.

Segundo a nota técnica, a diferença está na "evapotranspiração", um serviço ecossistêmico natural que funciona como uma "chuva às avessas" Foto: Sara Leal/ IPAM

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