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Direto do Japão: esperança que veio além do oceano

Em meio a diversas histórias de imigrantes, os japoneses chegaram ao pará fugindo da crise e aqui plantaram, literalmente, o sonho do desenvolvimento no campo

Imagem ilustrativa da notícia Direto do Japão: esperança que veio além do oceano camera Divulgação

‘Navegar é preciso, viver não é preciso’. Foi com esta simples frase que o general Pompeu, por volta de 1 a.C, conseguiu convencer milhares de romanos a abandonarem tudo para desbravar outras terras. A profundidade das palavras do general tocou a alma dos esperançosos que sonhavam em conhecer os primores de algum novo lugar que os acolhesse. A partir daquele ponto da história, milhares de imigrantes romanos começaram a atravessar mares, para tornarem-se o pilar da civilização ocidental além da Europa.

Assim, tudo está em constante transformação graças a chegada e partida de corajosos imigrantes que um dia decidiram arriscar. No Pará não é diferente. A história da agricultura de nosso Estado mostra a importância dos imigrantes para seu desenvolvimento ao longo dos anos. São histórias de famílias que fugiram da miséria e das guerras em suas terras, para se instalarem em um local completamente desconhecido, em plena floresta amazônica.

Portugueses e espanhóis fugindo da miséria em seus países e até norte-americanos derrotados na Guerra da Secessão em 1865. Todos contribuíram de alguma forma para a agricultura paraense. No entanto, o povo japonês teve bastante destaque, deixando uma herança inestimável para o setor. Incentivados pelo governo de Dionísio Bentes, que ofereceu mais de um milhão de hectares aos imigrantes, os japoneses começaram a chegar a partir de 1929, quando o Manila Maru, primeiro navio a atracar na capital paraense, trouxe 43 famílias, a maior parte para ocupar a região de Tomé-Açu.

Entre 1952 e 1965, mais de 46 mil japoneses chegaram ao Pará, criaram raízes principalmente em Tomé-Açu, Castanhal e Monte Alegre. Com a orientação da Companhia Nipônica de Plantação no Brasil, famílias como a do senhor Michinori Camta, produtor de Tomé-Açu, rapidamente inovaram a agricultura do Estado. Na época em que ele chegou por aqui, ainda criança, a cidade do nordeste paraense era um local tão inacessível, que só era possível chegar por barco. O início não foi fácil, mas a situação no Japão era pior. Não havia mais espaço para pessoas na superpopulosa ilha e os índices de desemprego e pobreza estavam nas alturas. Assim como Pompeu em Roma, o governo japonês estimulava seus cidadãos a “navegar”.

“Nossa família chegou aqui em 1960. Nossos pais não tinham oportunidades no Japão. Havia muita gente na miséria lá e então apareceu essa oportunidade através de uma empresa japonesa que oferecia travessias e divulgava informações sobre a Amazônia. Eles diziam que aqui poderíamos prosperar. Não tínhamos nada a perder, era nossa única opção. Meu pai dizia que o governo japonês nos deu só a passagem de ida pra cá. Começamos a trabalhar e aqui estamos até hoje”, diz Michinori, enquanto mostra fotos da família e de suas duas propriedades atualmente. Hoje Michinori produz açaí, cacau, cupuaçu e pimenta do reino. Tudo em um avançado sistema de agrofloresta. “Começamos com 20 hectares doados, hoje temos 850 divididos em duas terras, tudo respeitando a floresta”, diz.

HERANÇA

Trazendo na pouca bagagem a disciplina e paciência oriental, os japoneses transformaram, em pouco tempo, a agricultura do Pará. Foram eles que introduziram e desenvolveram várias culturas que hoje fazem parte do cotidiano alimentar dos paraenses. O que seria de nossa cozinha sem temperos como a pimenta do reino ou frutas como o mamão havaí, o rambutan ou o mangustão? Todos foram trazidos pelos imigrantes nipônicos, cada um em uma época distinta da história. Com técnicas de plantio, fertilização e adubação inovadoras, os japoneses conseguiram melhorar o solo amazônico e plantar em larga escala, fazendo do Pará líder nacional e mundial em alguns cultivos durante um bom período de tempo.

Entre todas as culturas aprimoradas, a história da introdução da pimenta do reino e do mamão havaí em solo paraense mostram bem a força dos imigrantes de lá. A viagem de navio para o Brasil demorava dois meses. A rota mais utilizada realizava paradas em Singapura e África do Sul, antes de atravessar o oceano atlântico para chegar ao sonhado Brasil, atracando nos portos de Santos ou do Rio de Janeiro. Foi durante uma dessas viagens que a pimenta apareceu.

“O Pará foi líder mundial no cultivo de pimenta do reino durante muito tempo e até 2016 era o nacional. E toda a história começou com um barco de imigrantes japoneses com destino ao Brasil e que encostou em Singapura. Um grupo de japoneses se encantou com as pimenteiras de lá e decidiram comprar 20 mudas para trazer pra cá. O resto já sabemos, a pimenta atinge o apogeu na década de 70, onde correspondia praticamente a 35% das exportações do Pará”, conta Alfredo Homma, pesquisador da Embrapa Oriental e autor do livro ‘A Imigração Japonesa na Amazônia’.

No início da década de 70, uma praga chamada fusário devastou os pimentais do Estado. Mostrando sua capacidade de recomeçar e nunca desistir, os agricultores japoneses trouxeram o mamão havaí e o melão amarelo ao Pará. Deu certo. As culturas logo se tornaram também uma das maiores do país na época.

“A história dos japoneses aqui é de superação. Veja bem, o governo isolou eles e outros imigrantes em uma terra inacessível, e eles conseguiram fazer tudo o que fizeram. Se comparar com outros produtores, que desmatam uma área e mudam para um outro local, os japoneses se destacam por terem respeito à terra e a preservarem. Eles mostraram ao nosso povo que com dedicação e tecnologia é possível permanecer na Amazônia sem a desmatar. Se estivessem em mais lugares, contribuiriam ainda mais para preservação”, diz Homma.

Michinori percebeu que era paraense quando visitou o Japão e se ofendeu quando ouviu falarem mal de brasileiros. Foi então que decidiu se autodeclarar amazônico e ajudar o povo de sua cidade, Tomé-Açu. Todos os dias acorda às 5h. Toma café com sua família e vai direto para a terra, onde fica até a noite. Sua contribuição para o pequeno município será eternamente lembrada. Ali não planta apenas alimentos. Planta sonhos. Está sempre reunindo a comunidade em oficinas e cursos, onde tenta repassar um pouco do que aprendeu. “Buda diz assim: seja pobre, mas seja honesto. Acima de tudo, respeito. Não existe riqueza financeira, todo mundo é igual, veio sem nada e vai sem nada. Tentamos passar isso pra população. Não adianta ter um milhão e ser infeliz. Eu gosto do trabalho social, isso me faz feliz. Outros são felizes se dedicando ao dinheiro. Cada um tem que ser feliz como acha. No Japão nós não falamos muito, nós mostramos atitudes. Isso tem sido repassado pra população”, diz.

Por fim, vencendo sua timidez oriental, continua se declarando ao seu país. É final de tarde e ele se prepara para se recolher. Amanhã começa tudo de novo, como há 60 anos. “Luto para que um dia nosso Brasil seja um melhor país. Amo o Pará, amo açaí, eu discuto pelo Brasil, não deixo ninguém falar mal do Brasil”.

Aqui, os japoneses desenvolveram diversas culturas agrícolas

Michinori e a família contribuem para o crescimento da agricultura no Estado

Direto do Japão: esperança que veio além do oceano
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