Poucas vezes a Seleção Brasileira partiu para uma Copa com um jogador tão contestado em todos os aspectos de avaliação. Daniel Alves, 39 anos, não seria titular hoje em nenhum grande time brasileiro. Não seria sequer considerado por um time mediano europeu. No entanto, o técnico da Seleção decidiu que ele tem lugar cativo no escrete que buscará no Catar o sonhado hexacampeonato mundial.

Pode até conseguir alcançar essa meta. O futebol por vezes é surpreendente. Ocorre que as leis que regem o esporte das multidões não costumam ser tão flexíveis em relação a ex-jogadores em atividade. Daniel é um desses. Foi o grande jogador, há 10 anos, no máximo. Disputou (mal) a Copa de 2014 no Brasil arrastando-se em campo, sofrendo com a alta temperatura brasileira.

Como filhos de um país tão afeito ao futebol, temos uma relação única com o esporte. Ao contrário de torcedores de outros países, o brasileiro mantém um sentimento de íntima conexão com a Seleção. Não raro, de amor e ódio, aprovação e negação. Desta vez, quase tudo caminhava para uma relação perfeita, de fina sintonia.

Afinal, Tite deixou claro que – a partir da autorização para convocar 26 jogadores – que iria priorizar o ataque, convocando o máximo de jogadores para o setor. Realmente fez isso: chamou nove atacantes, número incomum na trajetória da Seleção em Copas. Nada mais agrada o apetite da massa torcedora do que ver o Brasil com uma esquadra indomável e agressiva.

O problema é que Tite, ao que parece, decidiu deixar exposto um bode na sala, sabe-se lá por que motivo. Insistiu desde o ano passado com Daniel Alves. Mesmo quando o Barcelona não quis mais saber do lateral e este saiu à procura de um time para jogar – sim, não encontrou espaço em nenhum clube digno de um craque da Seleção.

Acabou achando abrigo no Pumas do México, um time periférico. Terminou o Campeonato Mexicano na 16ª posição, com 14 pontos em 17 partidas - foram apenas duas vitórias, oito empates e sete derrotas. Fez 12 jogos, tendo vencido uma única vez. Deu 3 assistências e não fez gol. O último jogo profissional de Daniel Alves foi dia 23 de setembro.

O quadro dramático (para Tite e seus acólitos) só foi sanado emergencialmente com a chance de ficar se recuperando, a toque de caixa, no Barcelona. Lá, seguiu merecendo atenção especial da comissão técnica, que deslocou auxiliares por duas vezes para avaliar o estado físico-atlético do veterano.

Quando Tite disse ontem, no ato de divulgação dos convocados, que Daniel será um lateral construtor, numa de suas blagues inventadas do nada, confirmou as piores suspeitas. O técnico tinha um compromisso pessoal com o jogador, que não é por si só deletério, mas diz muito do nível de descomprometimento com o que realmente importa.

O Brasil vai ao Catar para uma Copa inédita, que jamais aconteceu na era moderna. Seleções europeias em ponto de bala, voando, em pleno meio de temporada. Lembrar aqui que os campeonatos europeus se encerram em junho, o que faz com que disputem as Copas convencionais em fim de temporada, com jogadores desgastados. Agora será diferente.

Imagine um Mbappe partindo para cima de Daniel Alves. Tite levará como capitão do escrete um jogador depauperado, de 39 anos, dado a vaidades fora dos gramados e prima-dona em campo. E nem há o alento de dizer que é um super craque, fato que justificaria – mesmo por memória recente – sua convocação. Não. Daniel sempre foi um lateral de primeira linha, mas jamais teve a aura dos grandes.

A convocação representa, ainda, um menosprezo evidente por jogadores de melhor nível em condições de aproveitamento na Seleção. O próprio Eder Militão poderia fazer eventualmente o papel de lateral direito. Marcos Rocha, do Palmeiras, tem jogado muito. Raudinei, do Flamengo, um tanto zonzo, seria mais útil. E há, ainda, o caso de Rafinha (São Paulo), que tem o traquejo e a expertise do futebol europeu, como Tite tanto preza.

Um erro grave, que certamente terá consequências, principalmente se houver a insistência bovina em botar Daniel Alves para jogar.

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Desequilíbrio na lista é outra fonte de preocupação

Seis homens no meio-campo, nove atacantes, quatro laterais e quatro zagueiros de área. Havia uma desnecessidade de tantos atacantes de lado – Vinícius, Rodrygo, Antony, Raphinha, Martinelli, Richarlyson. O mais sensato era chamar um outro zagueiro, a fim de não se expor em excesso.

O meio-campo é outro ponto que inspira cuidados. Dos seis chamados não há um que personifique a figura do maestro, uma peça que a Seleção Brasileira sempre teve em Copas vitoriosas.

Falta o camisa 10 no sentido clássico do termo – Paulo Henrique Ganso é o único digno de ter esse papel. Everton Ribeiro, que será banco, é bom jogador, mas lhe falta a chama luminosa da personalidade.

Papão tem primeiro grande desafio na Copa Verde

O confronto de hoje em Manaus frente ao São Raimundo é, de fato, o primeiro teste de verdade para o PSC na Copa Verde. Os dois jogos anteriores, contra Humaitá e Tocantinópolis, foram simples amistosos. Vitórias tranquilas, sem maiores transtornos.

O São Raimundo é um time diferente, até porque é imprevisível. A vitória sobre a Tuna no Souza, por 3 a 0, chamou atenção para o futebol rápido e objetivo nas ações ofensivas. A presença de jogadores conhecidos no cenário regional também torna a equipe potencialmente mais perigosa.

Ao PSC, favorito no cruzamento, cabe jogar com seriedade e dentro de sua proposta de jogo. Na Série C, em várias situações, o time de Márcio Fernandes soube transformar a pressão do adversário em oportunidade para contra-ataques bem encaixados e letais.

É provável que isso se repita no confronto de hoje, desde que o time se mostre mais aplicado que nas duas primeiras partidas do torneio. O Papão só não pode permitir que o adversário consiga abrir vantagem para o confronto da volta, sábado, na Curuzu. 

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